Ela ficou ali, jogada (ou caída) em um canto escuro, úmido e sujo. Os cachos castanhos cobrindo-lhe a pele branca, de bochechas rosadas e olhos verdes, agora vermelhos, de tanto chorar.
Não sabia se chorava de medo, vergonha, dor ou pudor. Tentava engolir o choro, quando conseguia, por um instante, voltava-lhe à memória o recente ocorrido que, aos 13 anos, lhe marcaria o resto da vida, se restasse.
Ele surgiu quando ela voltava às 21h, de uma peça em cartaz no teatro próximo à sua casa. Viu aquele senhor, tinha idade para ser seu pai. Não deu importância. Seguiu.
Jamais esqueceria os cabelos escuros com cachos pequenos, a testa muito expressiva, o furo de um extinto brinco na orelha esquerda, o nariz meio achatado e os lábios muito finos. Porém, o que mais lhe causava repulsa ao lembrar eram as mãos. Ah! As mãos! Afoitas, sem nenhum pudor, ou piedade rasgaram-lhe o vestido, marcaram-lhe o corpo todo e feriram a alma.
Os olhos sobre ela, as palavras nojentas muito próximas ao seu ouvido e, as mãos, lembrava exatamente da textura – eram ásperas – frias.
Os gritos lhe foram abafados, era impossível se defender. Até tentou,
Penetrou-lhe, sem dó, receio, compaixão, ou consciência. Em momento algum lhe passou pela mente, que as cicatrizes seriam irreversíveis na vida daquela pequena garota. Cada vez mais rápido, impetuoso, viril, excitado. Gozou.
Levantou e saiu.
Ela ficou ali, jogada (ou caída) em um canto escuro, úmido e sujo. Vendo ir embora o homem que lhe marcara para toda a vida e, tinha idade para ser seu pai.