quinta-feira, 29 de maio de 2008

Arteemmim

Gostava daquela sensação de estar dentro de um museu. Não tinha ido há muitos. E aquele era especial. Era no Velho Mundo. Era magnífico estar em um lugar tão antigo, com tanta nostalgia arquivada. É, exatamente, arquivada, organizada. Nostalgia separada por data e categoria, lugar de origem e importância histórica. Era estranho pensar em nostalgia como fonte de renda ou comércio, mas é assim que é tratada em museus. Lamentava. Achava que nostalgia era algo muito profundo e íntimo. Talvez um dia pudesse entender essas leis de comércio. Mas agora não queria fazer isso. Queria apenas viajar no tempo, mergulhar naquele túnel sem saber aonde iria chegar afinal.

A poeira depositada de anos. Era encantadora. Seus olhos brilhavam. Tinha que manter uma certa distância dos objetos. Isso a deixava um pouco triste. Queria ter um contato mais intenso com cada um daqueles momentos. Cada quadro daquele representava a dor, a alegria, a certeza ou a dúvida de uma pessoa. Pessoas essas que ela não conhecia, sabia apenas o nome por serem pintores renomados, mas não conhecia seus anseios e ambições. Não sabia quem realmente eram.

Olhou ao redor, não tinha ninguém naquela parte da galeria. As câmeras a fitavam, como se a fossem engolir. Era incômodo não poder ter um momento de intimidade a sós com os antepassados que você não conhece e que nunca fizeram parte de sua vida, mas ainda assim são importantes.

Em um surto arrebentou a barra de proteção que proíbe a aproximação com o quadro. Pegou-o com as duas mãos e atirou no chão. Pisou em cima até quebrar completamente. E foi assim, destruindo um por um. Sentia um prazer incomparável ao destruir cada um daqueles momentos de aflição vividos por cada um daqueles pintores famosos.

Agora se cortava. Se cortava toda. O sangue jorrava e tomava conta de todo o chão, se misturava com os pedaços de telas sujas de tinta. Agora já não eram mais obras de arte. Eram apenas telas sujas de tinta. E ela já não era mais uma linda menina. Era uma esquizofrênica se machucando.

Não sabia exatamente porque tinha feito aquilo. Não tinha sensação nenhuma, não era capaz de sentir mais nada. Acabara com cada partícula de nostalgia. Começou a se despir, perdeu todo o pudor existente devido às câmeras. Ao estar completamente nua, olhou incisivamente para o nada e se masturbou. Se masturbou como nunca. Jamais havia sentido tanto prazer. Orgasmo múltiplo, não sabia o que era isso até esse momento. Deitou no chão sujo de sangue e adormeceu. um sono traquilo. Tudo se confundia. Telas quebradas, partículas de tinta, cavaletes, corpo nu. Tudo parecia harmonicamente unido. Ali estava a verdadeira exposição de arte.

Perecível



Estava sentada no banco traseiro do carro. Chovia. Via o asfalto passar muito rápido debaixo de seus pés. Assim como as casas, os carros estacionados, as árvores, os postes, as crianças brincado, os adolescentes nas esquinas, tudo passava muito rápido. Seus olhos não captavam todos os detalhes.
O carro parou no semáforo vermelho. Ela fitou um carro estacionado na frente de uma casa grande, um garoto de aproximadamente uns 22 anos, bonito, entrou no tal veículo estacionado e saiu cantando pneus. “Deve ter brigado com a namorada”, ela pensou.
O semáforo mudou para a cor verde e o carro acelerou novamente. Quando chegou na esquina seguinte – o desastre – lá estava o carro batido no poste, que já não passava rápido, e o garoto morto. Uma legião de pessoas já se aglomerava ao redor e fazia especulações hipócritas.
A vida é assim, curta, fútil e sensível.
O carro seguiu no ritmo normal. Ela ficou pensando se teria alguma diferença morrer aos 22 anos ou aos 60. Qual vida teria sido mais feliz, a do garoto que acabara de morrer, ou a dela que talvez continuasse entediada pelos próximos 50 anos?


Ps:. “Não é desejo, nem é saudade. Sinceramente, nem é verdade”.

Pps:. “E tudo aquilo contra o que sempre lutam, é exatamente tudo aquilo que eles são”.



“Vamos falar de pesticidas e de tragédias radioativas,
de doenças incuráveis, vamos falar de sua vida.
Preste atenção ao que eles dizem,
ter esperança é hipocrisia!
É preciso acreditar num novo dia,
na nossa grande geração perdida,
nos meninos e meninas,
nos trevos de quatro folhas.
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza”

quarta-feira, 28 de maio de 2008


A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais
E você passa de noite e sempre vê
Apartamentos acesos
Tudo parece ser tão real
Mas você viu esse filme também.
Andando nas ruas
Pensei que podia ouvir
Alguém me chamando
Dizendo meu nome.
Essa justiça desafinada
É tão humana e tão errada
Nós assistimos televisão também
Qual é a diferença?
Não estatize meus sentimentos
Pra seu governo,
O meu estado é independente.
Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão demodé.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Democratização dos Meios de Comunicação


Atualmente no Brasil, os donos de emissoras de radiodifusão vivem um momento muito tranqüilo, no ano passado, as concessões foram renovadas para os próximos quinze anos e a população sequer foi consultada sobre a decisão votada no parlamento.
É complicado pensar em um país democrático de fato, quando toda a imprensa nacional está centralizada na mão de seis famílias, além disso, a maioria delas tem “mídias cruzadas”, ou seja, possuem mais de uma modalidade de mídia, um mesmo grupo domina rádio, TV, jornal e revista.
No Paraná, e em Foz do Iguaçu a situação é exatamente a mesma. Basta abrir o jornal para ver estampado, em todas as páginas, a hipocrisia do jogo de interesses políticos e econômicos voltado para defender um pequeno grupo burguês. Prova concreta disso é que 15 geradoras de TV e 131 retransmissoras no estado são controladas por políticos, isso equivale a 41% da mídia estadual.
As concessões de radiodifusão são renovadas a cada quinze anos. Para a renovação as empresas devem declarar seus interesses ao Ministério das Comunicações, depois a Casa Civil da Presidência da Republica assina a renovação por meio de decreto e encaminha para o Congresso Nacional, no Congresso, o primeiro passo é ser avaliada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados (CCTCI), depois, o processo é enviado à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CDJC). Passa pelo Senado e então é analisada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática. Se o pedido é aprovado também nessa comissão do Senado, finalmente o processo volta para a Casa Civil, onde o presidente publica o decreto que oficializa a renovação da concessão.
Normalmente, todo esse processo deveria ser feito em no máximo um ano. Mas não é assim que acontece. No caso de rádios o processo chega levar sete anos para ser aprovado. Isso se deve ao fato de que aproximadamente 100 parlamentares, entre Câmara de Deputados e Senado, são ligados à radiodifusão.
Desses 100 parlamentares envolvidos, 53 deputados e 27 senadores possuem diretamente algum veículo de comunicação, 40 geradoras de televisão da Rede Globo são dominadas por políticos, 128 geradoras de outras transmissoras também são manipuladas por interesses políticos. Em 2004, dez deputados votaram na renovação de suas próprias TV´s, de 80 membros da Comissão de Ciência e Tecnologia 16 são ligados diretamente a alguma emissora de rádio ou TV, 1202 autorizações de rádios comunitárias dadas entre 1999 e 2004 são controladas por grupos partidários.
Em Foz do Iguaçu os dois jornais da cidade pertencem a empresários. O Gazeta do Iguaçu pertence ao Ermínio Gatti, dono também da empresa de Transporte Coletivo, Viação Itaipu. É um tanto estranho que no jornal dele nunca apareça nenhuma notícia voltada aos interesses da população, não? O Jornal do Iguaçu, a rádio 97,7 FM e a Foz TV, pertencem à Rosicler Hauagge do Prado, que por sinal também é dona de uma rede de colégios e de uma faculdade. “Normal” que as matérias sejam censuradas e manipuladas a seu favor.
Não podemos achar “normal”, a manipulação da mídia a favor de pequenos grupos burgueses, e muito menos, achar normal o monopólio dos meios de comunicação da cidade. Os canais de TV não são nem um pouco diferentes, exemplo claro é o fato de a TV Tarobá pertencer à família Muffato, dona também de uma rede de supermercados.
Já passa da hora de nós enquanto jovens politizados e formadores de opinião começarmos debater sobre as concessões e autorizações de radiodifusão. Porque essas três famílias supracitadas dominam os meios de comunicação de uma cidade inteira de parte de uma região? Porque os jovens não têm participação no processo de discussão sobre as autorizações? Porque não temos uma rádio ou uma TV comunitária? Todas essas questões devem ser amplamente discutidas. As decisões sobre um bem tão valioso como a comunicação deve ter sim, consulta e aprovação popular. Somos nós que sabemos o que queremos e o que precisamos ler, ouvir e assistir todos os dias. Estamos cientes da manipulação existente nos nossos meios e comunicação e devemos lutar por uma participação direta nesse processo, através de Conferências municipais, estaduais e nacionais sobre Democratização dos Meios de Comunicação.
Se os meios de comunicação atendem às necessidades do povo, o futuro nos pertence!



terça-feira, 13 de maio de 2008

Mp3



A música parecia ferir seus ouvidos, gostava daquelas músicas, mas já não lhe faziam tão bem. Talvez fosse a idade, é, estava começando a pensar nesse negócio de idade. Qual seria a idade em que a pessoa se torna adulta? Ou que o adulto começa a envelhecer? E aquelas pessoas que dizem que para o amor não existe idade, será que não existe mesmo? Será que quando as pessoas se tornam realmente adultas elas atingem a maturidade? Param de ouvir musicas legais? Ler livros interessantes?
Não sabia responder à essas perguntas, afinal, não era adulta. Mas apesar da pouca idade, já lhe cobravam muita responsabilidade. Seria pedir muito, um momento tranqüilo com os fones no ouvido? Mas era diferente, às vezes não dava mais, muita importância para esses momentos.
Será que estava se acostumando com as responsabilidades? Os fones lhe machucavam os ouvidos. Já não sentia a mesma emoção ao descobrir uma banda nova. Estava pensando sobre isso. Dentro do ônibus. Olhava as pessoas ao redor, em que será elas estariam pensando? Será que pensavam na vida e em quem ela mesmas eram? Ou será que só pensavam na próxima conta pra pagar, na roupa da vitrine e a última notícia do jornal?
Como a vida se resume à coisas fúteis, pensava. As pessoas vivem para trabalhar, estudar para arrumar um emprego melhor, para ganhar mais dinheiro e gastar mais com mais coisas inúteis criadas pelas leis de mercado desnecessário.
Não queria isso pra si mesma. Mas como evitar? Já estava entrando no ritmo. Já aprendera a cobrar e ser cobrada, mandar e ser mandada. Puxou a campainha, afinal, era hora de descer e encarar o mundo. A música continuava a tocar...
Ps:. "meu corpo é quente, estou sentindo frio..."

quinta-feira, 8 de maio de 2008

"Vício é aquilo que você faz pela última vez, todos os dias."