quarta-feira, 30 de abril de 2008

Insaciável



Ela estava deitada, o corpo talvez “pensando” em acordar, fora uma noite intensa, excêntrica, cansativa e prazerosa. Agora, porém, restavam apenas cinzas de cigarros espalhadas pelo quarto, lençóis amassados, roupas jogadas ao chão, dois copos vazios, pontas de um baseado comprado em uma esquina qualquer especialmente para ocasião e um profundo sentimento de vazio...

A pele exposta, as formas nuas totalmente à mostra eram perfeitas. Uma união simples e deliciosa. Eu apenas admirava, agora pareciam intocáveis. Aquele corpo desfalecido sobre a cama extraíra todo o sumo do prazer possível de se proporcionar a um ser humano.

Sim, havia lhe proporcionado todo o prazer imaginável, sem pedir nada em troca. Agora, só restava aquele lindo corpo, que eu admirava e tinha medo de tocar. Os fechos de luz que anunciavam o amanhecer penetravam a janela, assim como penetrei suas formas, e faziam com que a perfeição tão apreciada, agora se tornasse intangível.

Tinha medo de me aproximar e quem sabe, estragar o momento perfeito que me fora proporcionado, sentia-me vazia, apesar de todo o prazer que ainda me restava. O vazio era maior. Insaciável e profundo. O medo, a vergonha, o pudor, a culpa e o prazer, tudo se confundia e se fundia em minha mente obcecada. Ela, com toda sua delicadeza profana, abriu os olhos castanhos e incisivos, e eu não soube o que fazer.


Ps:. “eu lembro beijos, blues e poesia, eu lembro a cara que você fazia, será que eu lembro que não existia, eu lembro dia e noite, noite e dia...”.

Pps:. Acho que nesse momento tem alguém se apaixonando por alguém, e se sentido sozinho, ou não...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Buquê de Lírios



Uma estrela cadente foi exatamente isso. Via a vida passar sentada na frente de um computador. Sabia o que estava acontecendo através de sites de notícias.
Não tinha muito tempo livre, trabalhava bastante. Ligava uma vez por dia para a namorada. Não sabia como ainda estavam namorando, com tão pouco tempo, logo, logo, Letícia se enjoaria dela, mas aproveitava enquanto isso não acontecia. Namoravam já fazia um ano e três meses. Droga. Hoje completava quatro. E ela já ligara para Letícia, e não lembrou de dizer nada. Fazer o que, esqueceu. Ta tudo bem, nada que um buquê de lírios não resolva. Ligou para uma floricultura, “um buquê de lírios por favor. É. De Ana para Letícia, com amor. Obrigada.”
Já faz um ano e quatro meses, quem diria que chegariam a tanto tempo juntas. Quando eram adolescentes gostavam de subir até o terraço do prédio, deitar de costas no chão e ficar observando o céu, procurando estrelas cadentes. Eram confidentes. Como se decepcionavam com os garotos, sempre tão infantis. Diziam que um dia encontrariam alguém perfeito. Nunca imaginariam que seriam perfeitas uma para outra, tirando o stress do trabalho, tudo estava bem.
Publicitária, atualmente está trabalhando para uma marca de roupas chamada Estrela Cadente. Cada vez que desenvolve um novo projeto para a marca, lembra-se perfeitamente das noites no terraço do prédio. Mas a cena que lembra com mais freqüência é do dia em que Letícia subiu as escadinhas apressada. Chorando muito. Ana perguntou o que tinha acontecido, e Letícia respondeu: “perdi minha virgindade com o Júlio, eu fiz uma grande merda, achei que o amava, e do nada chamei ele de Ana”. Ana olhou perplexa. “Cara, o quê que você fez!, como que você chama o cara de Ana?!”. Abraçaram-se forte e pronto, deitaram e foram caçar estrelas cadentes pra esquecer o que tinha acontecido. Ana tinha 15 anos, Letícia ia completar 16 no próximo mês.
Até hoje não lembra direito o que aconteceu nos dias seguintes. Foram meio conturbados. Mais para ela mesma que para Letícia. Agora, sete anos depois, até se divertem contando a história para as amigas. Júlio, é que não se conforma muito, ainda é amigo de Ana, de Letícia, não muito.Terminou o expediente, saiu, no caminho ligou para Letícia pela segunda vez nesse dia, marcou de encontrá-la em casa. Passou na loja de conveniências comprou umas cervejas, buzinou, e Letícia já saiu correndo com o buquê de lírios entre os braços, dizendo que tinha adorado. Entrou no carro e foram. Depois de dirigir muito, estacionou em um bosque, estava meio conturbada. O bosque estava completamente vazio, era bem longe da cidade. Deitaram sobre a grama e ficaram conversando as coisas de sempre, o dia corrido que tiveram, os problemas do trabalho. Deixaram a rotina de lado e ficaram simplesmente observando as estrelas, procurando a estrela cadente. De repente, passa uma, Letícia diz baixinho, “eu desejo, nunca me separar de Ágata”. Ágata, Ana ouvira bem, Ágata, como assim? Ágata? “eu não acredito que eu to passando pela mesma coisa que o Julio passou a sete anos atrás!”. “Não foi isso que eu quis dizer juro, não tem nada a ver”. Não queria ouvir explicações. “Entra no carro, não vou deixar você aqui, vamos”, entraram no carro e voltaram para a cidade. Estacionou na frente da casa de Letícia.
“Tchau!” e saiu cantando pneus. Estava completamente perdida, não prestava atenção nos carros passando, nem nos pedestres em nada. Apenas via o rosto de Letícia, em todos os lugares. Estacionou o carro em um lugar qualquer e saiu correndo. Correndo desesperada. Não deu tempo de atravessar a rua, foi atropelada. Naquele instante viu todas as cenas importantes de sua vida passarem em um segundo. Mas o primeiro beijo de Letícia se demorou pra passar, parecia que ia ficar vendo aquela cena para sempre, mesmo sabendo que seu sempre não duraria muito. Sentia dor, gosto de sangue na boca, seus olhos ardiam. Antes de chamar pela última vez o nome de Letícia, pode ver uma estrela cadente cortando o céu.

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Novos Rumos"

- “Aos novos rumos da América Latina”
- Aos novos rumos!
- Cara, que massa, vocês tão vendo a proporção que as coisas estão tomando?
- E o melhor de tudo a gente tá participando das mudanças.
- Não só participando, estamos sendo protagonistas em grande parte delas!
- Sim!
- Agora, a vitória do Lugo!
- É muita gente, o Lugo, o Evo, o Hugo, o Lula... É uma galera!
- As coisas realmente vão mudar, estão mudando.
- O povo latino americano tomou consciência de que é possível mudar a realidade que vivemos.
- É, muito massa, o povo está tomando consciência e tudo mais, mas agora eu tenho que ir pra aula.
- É, eu também, não dá pra ficar no bar brindando a vitória latino americana a aula inteira.
- É isso aí, eu tenho sociologia agora, tô fudido!
- Boa sorte, vai lá, a gente se vê depois da aula então?
- Ah, ok, depois da aula.
- Hei, galera: “hasta la vitctória”
- Siempre!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

"e se antes, um pedaço de maçã, hoje quero a fruta inteira, e da fruta tiro a polpa...
todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem"

segunda-feira, 7 de abril de 2008


"eu só sei que nas noites de outono é melhor perder o sono e sair pra ver o céu"

sexta-feira, 4 de abril de 2008

LISTA DE PREFERÊNCIAS

Alegrias, as desmedidas.

Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.

Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.

Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.

Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.

Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.

Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.

Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.

Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.

Meses, outubro.

Elementos, os fogos.

Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.

Mortes, as instantâneas.

(Bertolt Brecht)