sexta-feira, 25 de abril de 2008

Buquê de Lírios



Uma estrela cadente foi exatamente isso. Via a vida passar sentada na frente de um computador. Sabia o que estava acontecendo através de sites de notícias.
Não tinha muito tempo livre, trabalhava bastante. Ligava uma vez por dia para a namorada. Não sabia como ainda estavam namorando, com tão pouco tempo, logo, logo, Letícia se enjoaria dela, mas aproveitava enquanto isso não acontecia. Namoravam já fazia um ano e três meses. Droga. Hoje completava quatro. E ela já ligara para Letícia, e não lembrou de dizer nada. Fazer o que, esqueceu. Ta tudo bem, nada que um buquê de lírios não resolva. Ligou para uma floricultura, “um buquê de lírios por favor. É. De Ana para Letícia, com amor. Obrigada.”
Já faz um ano e quatro meses, quem diria que chegariam a tanto tempo juntas. Quando eram adolescentes gostavam de subir até o terraço do prédio, deitar de costas no chão e ficar observando o céu, procurando estrelas cadentes. Eram confidentes. Como se decepcionavam com os garotos, sempre tão infantis. Diziam que um dia encontrariam alguém perfeito. Nunca imaginariam que seriam perfeitas uma para outra, tirando o stress do trabalho, tudo estava bem.
Publicitária, atualmente está trabalhando para uma marca de roupas chamada Estrela Cadente. Cada vez que desenvolve um novo projeto para a marca, lembra-se perfeitamente das noites no terraço do prédio. Mas a cena que lembra com mais freqüência é do dia em que Letícia subiu as escadinhas apressada. Chorando muito. Ana perguntou o que tinha acontecido, e Letícia respondeu: “perdi minha virgindade com o Júlio, eu fiz uma grande merda, achei que o amava, e do nada chamei ele de Ana”. Ana olhou perplexa. “Cara, o quê que você fez!, como que você chama o cara de Ana?!”. Abraçaram-se forte e pronto, deitaram e foram caçar estrelas cadentes pra esquecer o que tinha acontecido. Ana tinha 15 anos, Letícia ia completar 16 no próximo mês.
Até hoje não lembra direito o que aconteceu nos dias seguintes. Foram meio conturbados. Mais para ela mesma que para Letícia. Agora, sete anos depois, até se divertem contando a história para as amigas. Júlio, é que não se conforma muito, ainda é amigo de Ana, de Letícia, não muito.Terminou o expediente, saiu, no caminho ligou para Letícia pela segunda vez nesse dia, marcou de encontrá-la em casa. Passou na loja de conveniências comprou umas cervejas, buzinou, e Letícia já saiu correndo com o buquê de lírios entre os braços, dizendo que tinha adorado. Entrou no carro e foram. Depois de dirigir muito, estacionou em um bosque, estava meio conturbada. O bosque estava completamente vazio, era bem longe da cidade. Deitaram sobre a grama e ficaram conversando as coisas de sempre, o dia corrido que tiveram, os problemas do trabalho. Deixaram a rotina de lado e ficaram simplesmente observando as estrelas, procurando a estrela cadente. De repente, passa uma, Letícia diz baixinho, “eu desejo, nunca me separar de Ágata”. Ágata, Ana ouvira bem, Ágata, como assim? Ágata? “eu não acredito que eu to passando pela mesma coisa que o Julio passou a sete anos atrás!”. “Não foi isso que eu quis dizer juro, não tem nada a ver”. Não queria ouvir explicações. “Entra no carro, não vou deixar você aqui, vamos”, entraram no carro e voltaram para a cidade. Estacionou na frente da casa de Letícia.
“Tchau!” e saiu cantando pneus. Estava completamente perdida, não prestava atenção nos carros passando, nem nos pedestres em nada. Apenas via o rosto de Letícia, em todos os lugares. Estacionou o carro em um lugar qualquer e saiu correndo. Correndo desesperada. Não deu tempo de atravessar a rua, foi atropelada. Naquele instante viu todas as cenas importantes de sua vida passarem em um segundo. Mas o primeiro beijo de Letícia se demorou pra passar, parecia que ia ficar vendo aquela cena para sempre, mesmo sabendo que seu sempre não duraria muito. Sentia dor, gosto de sangue na boca, seus olhos ardiam. Antes de chamar pela última vez o nome de Letícia, pode ver uma estrela cadente cortando o céu.

4 comentários:

Insolúvel. disse...

"Quem pode explicar os amores? Ou ainda os resultados que esses podem provocar?"
Gostei, Mari, ficou bem legal..=)

Luciana disse...

realmente.
eu ja tinha lido e ja fiz meu comentario pessoalmente então é invariável
ausdhuiashiusadh

michelito disse...

Olá!

Gracias por comentar no meu blog! E por saber que és uma guria que escreves mto bem! Curti o texto!

lisspow disse...

realmente gostei mari =)
é triste, mas eu gostei...